sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Carta de uma Cartomante

Bom, em primeiro lugar, quero dizer que sou adepta ao espiristismo segundo Alan Kardec. Se não lhe agrada tais assuntos, leias outras postagens que todas são boas.

Continuando. Minha mãe trabalha como psicógrafa e psicopictógrafa num centro espírita aqui pertinho, e esse mês elas nos trouxe uma mensagem muito importante, que gostaria de compartilhar com vocês, que com certeza são tão vislumbrados pelo exoterismo de poder saber um passado ou um futuro distante. Isso mudou um pouco a minha visão, e espero que mude a daqueles que estejam abertos a compreender o que outros tem a nos falar de tão longe...



"Boa noite. Fui cartomante em minha vida passada, recebi de Deus um dom. Conseguia em apenas um olhar, saber a vida presente e a passada dos meus clientes. Muito me endividei, mas não foi por querer. Cobrava o serviço por pura ignorância. Fui ensinada pela minha mãe, que também era cartomante, a cobrar pelo dom que recebi. Ela não o possuía, mas mesmo assim, arriscava palpites e recebia uma boa soma por eles. Uma ilusão momentânea que aqui fiz o mesmo, aceitei minha sorte sem pestanejar. Com a diferença de que eu possuía o dom, ou, como vocês chamam, a mediunidade.

Fazia o possível para deixar meus clientes satisfeitos, pois sabia cobrar bem. mesmo que estivessem em seu futuro a pobreza, a infidelidade ou a doença, nunca o informava pois as pessoas que me procuravam geralmente não queriam saber de desgraças. O cliente satisfeito paga bem. E era o que eu fazia.

Não foi minha culpa essa minha ocupação. Nasci em uma família que descendia de ciganos romenos, que vão, pelo mundo todo em peregrinação e muitas pessoas enxotam como a animais.
Não tive uma vida encarnada longa, mas vivi em abastança pela profissão que escolhi.
Ao desencarnar, encontrei alguns tanto clientes quanto espíritos que inspiravam as prestidigitações. Os clientes, alguns, me agradeceram, pois seguiram meus conselhos e venceram na vida; Outros, porém, me recriminaram por não ter falado a eles a verdade mesmo sabendo. Mas nada foi pior do que a cobrança feita pelos espíritos que me ajudaram a saber a sorte das pessoas. Eles me escravizaram por anos em regiões iminagináveis.

Sei que todos desejam saber se vão ser felizes, pois, ao reencarnar, esquecem as tarefas que escolheram. Mas nada é feito em acordo com elas pois não se quer o sofrimento e a dor. Então, os clientes desejam que lhes digam que terão vidas promissoras, serão sortudos.
Para vocês, deixo meu conselho: olhem para dentro de si e saberão o passado, desta e das outras vidas, pelas próprias tendências. Trabalhem para melhorar espiritualmente e materialmente e saberão o futuro.

Adeus."

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cartas pela Lua.


Pronto, terminei. Mais uma carta, das tantas que não me canso de mandar por aí!
Agora vai me dizer por quê, ela foi parar em outro lugar. Cheguei da escola e olhei uma estranha resposta endereçada a mim.
Não conheço o remetente. Mas reconheço a destinatária - não há dúvidas.
Abro a carta e me deparo com palavras de Shakespeare. Já chamou a atenção, claro! Leio um estranho a me agradecre pelas minhas "humildes" escritas e dizer o quanto se identificou com meus dizeres, minhas poesias, desenhos e devaneios. Fiquei confusa, embaraçada e curiosa. Confusa pela resposta de um estranho, embaraçada pelo mesmo ter me lido de uma forma tão íntima. Curiosa, por saber que existe um alguém em algum lugar que também pára onde estiver para contemplar a lua.
Respondi de volta. O destino é certeiro, de uma forma ou de outra dá um jeito de pessoas afins se encontrarem. Desculpei-me por qualquer coisa que tenha escrito na carta anterior - cujo remetente original era um familiar - e agradeci pela consideração. Falei de mim, dos meus prazeres, da vida, das crenças místicas e dos sonhos exotéricos. E assim foi, um ciclo de envelopes constante, onde um se deliciava com as palavras do outro, e se de um lado se esperava ansiosamente por uma resposta, do outro deleitava-se com uma escrita prazerosa. Até que sem querer, estávamos gostando um do outro. Foi assim, sem perceber, pelas palavras doces e sonhos puros.
Ele juntou o pouco que tinha e veio encontrar-me. Ficou três dias. Três dias de glória, três dias que não pareciam dias, não parecia ter tempo, como uma brecha de vácuo onde tudo é repleto e tudo é vazio ao mesmo tempo. Prazer e desprazer. Esperança e descrença. Amor e raiva. Raiva por saber que a despedida logo viria. Saudade matada e saudade que nasceu. Corpo, alma, lua. Um mesclado de sentimentos.

Porém, os três dias acabaram-se, e com eles se foi a magia desse sonho. Tudo foi se esvanecendo até acabarem os envelopes. A distância aumenta o medo do fim e a saudade é crua, nua e irracional, faz-nos loucos! Não aguento assim, é para ele ou para mim! As cartas não vieram nunca mais. Demos adeus.
Tempos depois, dizemos olá novamente. As cartas iam e vinham, por curiosade, ainda saudade, talvez amizade. Quando veio novamente, ficou até bastante. Estávamos em paz, e havíamos percebido que tudo o que sentimos sempre vai existir, mas que nascemos em lugares diferentes porque precisamos tocar a vida separados. Hoje não estou mais só, assim como ele. Mas a lua continua brilhando lá no céu. A minha caixa de correio tem estado sempre vazia, e temo que assim ela permaneça. Entretanto, ainda escrevo cartas pela lua. Para a lua. A despedida final foi triste e vazia, embora tudo pra mim foi e sempre será belo, único, um turbilhão de tudo o que há dentro desse coração. Não quero me esquecer de nada, nada mesmo. Quero lembrar sempre com um sorriso, e rezar sempre para que aquelas mãos compositoras habilidosas possam realizar-se nessa vida que segue entre altos e baixos, como as fases lunares... Que mudam mudam, as vezes mais fracas ou mais fortes, mais belas ou mais mórbidas, mas sempre sempre encantadoras!