segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cartas pela Lua.


Pronto, terminei. Mais uma carta, das tantas que não me canso de mandar por aí!
Agora vai me dizer por quê, ela foi parar em outro lugar. Cheguei da escola e olhei uma estranha resposta endereçada a mim.
Não conheço o remetente. Mas reconheço a destinatária - não há dúvidas.
Abro a carta e me deparo com palavras de Shakespeare. Já chamou a atenção, claro! Leio um estranho a me agradecre pelas minhas "humildes" escritas e dizer o quanto se identificou com meus dizeres, minhas poesias, desenhos e devaneios. Fiquei confusa, embaraçada e curiosa. Confusa pela resposta de um estranho, embaraçada pelo mesmo ter me lido de uma forma tão íntima. Curiosa, por saber que existe um alguém em algum lugar que também pára onde estiver para contemplar a lua.
Respondi de volta. O destino é certeiro, de uma forma ou de outra dá um jeito de pessoas afins se encontrarem. Desculpei-me por qualquer coisa que tenha escrito na carta anterior - cujo remetente original era um familiar - e agradeci pela consideração. Falei de mim, dos meus prazeres, da vida, das crenças místicas e dos sonhos exotéricos. E assim foi, um ciclo de envelopes constante, onde um se deliciava com as palavras do outro, e se de um lado se esperava ansiosamente por uma resposta, do outro deleitava-se com uma escrita prazerosa. Até que sem querer, estávamos gostando um do outro. Foi assim, sem perceber, pelas palavras doces e sonhos puros.
Ele juntou o pouco que tinha e veio encontrar-me. Ficou três dias. Três dias de glória, três dias que não pareciam dias, não parecia ter tempo, como uma brecha de vácuo onde tudo é repleto e tudo é vazio ao mesmo tempo. Prazer e desprazer. Esperança e descrença. Amor e raiva. Raiva por saber que a despedida logo viria. Saudade matada e saudade que nasceu. Corpo, alma, lua. Um mesclado de sentimentos.

Porém, os três dias acabaram-se, e com eles se foi a magia desse sonho. Tudo foi se esvanecendo até acabarem os envelopes. A distância aumenta o medo do fim e a saudade é crua, nua e irracional, faz-nos loucos! Não aguento assim, é para ele ou para mim! As cartas não vieram nunca mais. Demos adeus.
Tempos depois, dizemos olá novamente. As cartas iam e vinham, por curiosade, ainda saudade, talvez amizade. Quando veio novamente, ficou até bastante. Estávamos em paz, e havíamos percebido que tudo o que sentimos sempre vai existir, mas que nascemos em lugares diferentes porque precisamos tocar a vida separados. Hoje não estou mais só, assim como ele. Mas a lua continua brilhando lá no céu. A minha caixa de correio tem estado sempre vazia, e temo que assim ela permaneça. Entretanto, ainda escrevo cartas pela lua. Para a lua. A despedida final foi triste e vazia, embora tudo pra mim foi e sempre será belo, único, um turbilhão de tudo o que há dentro desse coração. Não quero me esquecer de nada, nada mesmo. Quero lembrar sempre com um sorriso, e rezar sempre para que aquelas mãos compositoras habilidosas possam realizar-se nessa vida que segue entre altos e baixos, como as fases lunares... Que mudam mudam, as vezes mais fracas ou mais fortes, mais belas ou mais mórbidas, mas sempre sempre encantadoras!

5 comentários:

Mare Soares disse...

Primeira coisa: OH MEU DEUS, VC VOLTOU! Não sabe como isso me felicita!
Segunda coisa: Voltou com tudo. Com um texto que dói bem lá no fundo e é lindo, também achei positivo e talvez não seja necessariamente.
Seja bem vinda de volta :)
E se não quiser enviar só cartas para a Lua, pode enviar pra mim também =p sempre são bem vindas.

Deise Daros disse...

Que belo texto, Luiza.
Bom ver você de volta!
Beijão

Paty Augusto disse...

Tão bom ter você de volta... e ainda trazendo um texto que me tocou tão profundamente...

Vi partes da minha vida nele e algumas lágrimas até chegaram a saltar de meus olhos... Vi uma linda parte do meu passado que irá sempre refletir em meu presente...

Obrigada por voltar a compartilhar conosco suas palavras e sentimentos.

Bem vinda de volta, querida!

Beijos

Luiza Callafange disse...

Que bom me sentir amada, obrigada gente!

Marinho disse...

As meninas mcomentaram tudo. Tudo que estou sentindo. Alegria pela volta triunfal.Uma identificação completa com os personagens e por isso uma saudade da lua, da distância, da caixa de correio com uma cartinha que vem d elonge.
Posso não falar nada? Quero só sentar aqui no cantinho, admirar sua volta e chorar um cadinho a luz da lua.
beijos!