sexta-feira, 8 de julho de 2011

Língua Brasileira de Sinais

Oi pessoal! Tudo bem?
Estou praticamente ao término de mais um cansativo semestre, e com muitas notícias legais, como o meu novo estágio em um centro de informática da UnB (que é de onde estou escrevendo agora), que vai me dar tempo e disponibilidade pra estudar, um carrinho adquirido pelo meu avô que comprou um novo e me passou o antigo, que se Deus quiser será quitado por mim e pelo meu pai em alguns anos, a aquisição de 17 créditos de aproveitamento de estudos independentes que eu solicitei na minha faculdade para tentar me formar mais rápido, o que faz com que restem 31 e dá possibilidade de eu me formar ao final do ano \o/ uhul



E a coisa mais divertida que eu queria compartilhar com vocês:
Esse semestre fiz uma disciplina de Libras na Faculdade de Educação, com a professora Edeilce Buzar que é intérprete há vinte anos. Utilizando os livros da FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), órgão que existe em Brasília e tem sua sede do Rio de Janeiro, aprendemos o básico do básico nos módulos 1 e 2, e foi muuuuuuuuito legal!
A Libras tem variações regionais assim como o português, e muda sua língua em outros países também, assim como o português comparado ao espanhol ou ao inglês (pode ter semelhanças e sinais universais, mas varia como qualquer língua nacional). Nesse pequeno curso de 60 horas nós aprendemos MUITO e foi muito divertido ter contato com a cultura surda e ver como eles desenvolvem identidades tão peculiares quanto às nossas, de ouvintes. É incrível ver o mundo visual e espacial que eles captam em suas mentes, e muitas vezes percebendo tantas coisas que nós não somos capazes de enxergar ou "ouvir" com os olhos, as nossas expressões corporais e faciais e as nossas mãos. É incrível, de verdade!
Na língua surda, cada pessoa tem um nome, como qualquer outra, mas em especial, um nome chamado "sinal". Meu nome é Luiza, na primeira vez que me apresento posso digitar em Libras L-U-I-Z-A, mas graças à um querido amigo surdo, agora tenho um sinal, que é um L desenhando um sorriso em meu rosto. Apenas os surdos podem dar sinais! Às vezes os mesmos vêm atribuídos de características que nem prestamos tanta atenção, como pintinhas, cabelos cheios, lisos, bochechas, covinhas, brincos grandes, pirceings, ou até mesmo quilinhos a mais ou menos... As características podem ser gerais, físicas, ou bem específicas (tenho uma amiga que ganhou um sinal da letra A acariciando seu braço, o que mostra que ela é muito meiga)!
Na internet tem um dicionário bem legal, que é esse. Há outros, dá pra achar no google, mas não esqueçam que tem a variação linguística (se eu fizer determinadas palavras em Brasília, elas podem não significar nada no Rio de Janeiro, e vice-versa).
Outra coisa que também é diferente é a forma de falar. Não é só traduzir cada palavra do português para libras, os artigos e muitas preposições não são utilizadas, além da conjugação de verbos ou gênero de palavras. As falas lembram o inglês, porque ao invés de falar "criança pequena", eles falam "pequena criança". No site que eu indiquei tem uns exemplos e dá pra ver a diferença. Ah, sobre palavras sem gênero? Verbos no infinitivo? Fica algo do tipo "EU VIAJAR FÉRIAS RECIFE. CONHECER MENIN@ BONIT@ LÁ, MUITO B@M! " (Eu viajei de férias pra Recife, conheci um menino muito bonito lá! Foi muito bom!)
Pode parecer estranho, mas fica bem mais fácil pra falar! E a comunicação é completamente efetiva, como qualquer outra em outra língua.
Uma questão que me fez pensar aprender libras, conhecer surdos, foi sobre a história deles, sobre como a sociedade já torturou essas pessoas que nasceram sem ouvir sons, tentando consertá-las e adaptá-las ao padrão "normal" da sociedade, impondo-lhe aparelhos auditivos, o implante coclear (por cirurgia, o bilinguismo (oralizar o surdo) e vários procedimentos que trazem uma vivência dolorosa e traumática para a criança surda. Muitas vezes os pais não têm a devida comunicação e afeto. Pense no lugar da criança: você nasceu sem ouvir, quando seus pais descobrem que você é surdo, eles vivem o luto do filho que desejavam e se afastam de você, e um dia, sem ninguém lhe explicar, te levam para um hospital para te impor situações difíceis e que na sua cabeça não fazem sentido nenhum!
Ah sim, e há quatro tipos de surdez, a perda leve (ainda dá pra ouvir sons baixos), a moderada (barulhos mais altos como sirenes, máquinas de obras e outros são ouvidos bem baixinho) e severa (não se escuta nenhum som exceto com aparelhos) e a profunda. Antes eu imaginava o quanto devia ser difícil pra um surdo, mesmo sabendo libras, porque a nossa sociedade não é bilíngue e pra pedir uma informação deve ser a maior dificuldade... Foi aí que me dei conta de que há comunidades surdas, com suas culturas, histórias e vidas. Há pesquisas que apontam que o surdo se desenvolve com um nível muito mais adequado e rápido com sua língua do que com uma língua imposta por aparelhos. Conheci surdos oralizados também, mas todos têm histórias difíceis, e pelo menos a maioria, se pudesse escolher, preferiria não ter que se adaptar à sociedade, mas gostaria que a sociedade se adaptasse à ela.
Eu sou a favor de escolas bilingues (onde todos aprendam português e libras e possam compartilhar culturas e vivências), quero aprender mais libras, quero ensinar libras para os meus filhos e propagar essa ideia de que somos todos humanos e mesmo que alguns se desenvolvam por outros caminhos, devemos fazer isso juntos e unidos - diferente da atual situação, onde o MEC quer acabar com as escolas bilingues ou voltadas aos surdos porque acredita que a inclusão vai acontecer apenas na escola atual, sendo que não há preparo nem da instituição nem dos profissionais da educação para que isso aconteça, como constatou a minha professora em sua tese de mestrado (que realmente os surdos ficam isolados e que essa inclusão não acontece). Aqui em Brasília teve um protesto contra esse modelo de educação, onde foi feito um anúncio feito pela diretora nacional de Políticas Educacionais Especiais do MEC, Martinha Claret, sobre o fechamento, até o fim do ano, do Colégio de Aplicação do Instituto Nacional de Surdos (Ines), em Laranjeiras, e do serviço de ensino fundamental para deficientes visuais do Instituto Benjamin Constant, na Urca. Absurdo!

Bom, é isso, contei um pouco de uma história linda que me comoveu, de uma gente tão grande quanto tantas identidades maravilhosas que existem pelo mundo.


Me apaixonei, hehe!


Por isso, deixo um presente pra vocês:



2 comentários:

Lillian disse...

Muito interessante, acho que todo mundo tinha que saber o básico para se comunicar com essas pessoas que são tão especiais.
Será que me gesto seria um L e algo como "olhos enormes"?
Beijo beijo.

Luiza Callafange disse...

Com certeza! xD